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Diário de viagem - Peru - 2018 - parte 2 - continuação - Lago Titicaca e Ilhas Flutuantes de Uros

O passeio pelo Lago Titicaca e pelas Ilhas flutuantes de Uros era, sem dúvidas, o mais esperado em nossa passagem por Puno. 
 
Tido como sagrado pelos quéchuas (ou Incas, como os espanhóis preferiram chamar), o Lago Titicaca é o berço mitológico do povo que ocupou Cusco e depois unificou todo um império no altiplano sulamericano. É também um dos maiores lagos da América do Sul e possui o corpo de água navegável mais elevado do mundo

No Lago Titicaca há também outras ilhas NÃO flutuantes, e vale a pena incluir pelo menos uma delas no passeio. Partindo de Puno, é possível visitar a Ilha Taquile e a Ilha Amantaní. São várias as opções de passeios, podendo, inclusive, dormir em uma dessas ilhas. Nós fizemos o passeio de apenas um dia, passando pelas Ilhas Flutuantes de Uros e Ilha Taquile, e compramos o bilhete na hora, ali no pier de onde partem os barcos.
 
Ilhas Flutuantes de Uros

Uros é a denominação de uma etnia que habita uma vasta região entre a Bolívia e o Peru, e que desenvolveu a habilidade de criar ilhas flutuantes artificiais. Já estavam por ali desde, pelo que se sabe, a era pré-colombiana. Continuaram flutuando quando os Incas se tornaram poderosos, e continuaram a flutuar quando os espanhóis chegaram.

As ilhas são feitas de "totora", um tipo de junco nativo da Baía de Puno. A planta possui uma raiz parecida com xaxim, que possibilita a flutuação. Os Uros amarram essas raízes em blocos e colocam uma camada bem grossa de palha da totora no piso. A palha também é usada para cobrir as cabanas, produzir artesanato e até construir barcos, que são usados para passeios de turistas e transportes dos moradores.

Não faltam versões para explicar porque os Uros resolveram deixar a terra firme e construir ilhas flutuantes. Uma das mais aceitas diz que foi uma estratégia de defesa – se o inimigo chegasse, bastava flutuar com a ilha inteira para longe dali. Antigamente elas flutuavam livremente por todo o lago, mas hoje, por conta da fronteira entre Bolívia e Peru e a burocracia da imigração, as ilhas precisam ser fixadas com âncoras para que não corram o risco de passar para o outro país.

Logo no início do passeio teve uma apresentação de música andina ao som de uma flauta de pã, também conhecida na região como "siku". E a poucos metros do ponto de partida já é possível avistar um pouco da "plantação" de totora.



Plantação de totora

Durante o trajeto até a primeira parada, que dura cerca de 30 minutos, a gente vai se encantando com as ilhas flutuantes, os barcos de totora e o colorido das roupas do povo local.





Seja qual for o passeio pelo qual você optar, haverá uma parada em uma das muitas ilhas flutuantes. Na chegada, o guia conta um pouco da história dos Uros, das ilhas flutuantes e da totora, e também nos oferece uma totora para provarmos. É só descascar a base da planta, como se fosse uma banana, e comer a parte branca, que tem um leve sabor adocicado.





Flor da totora

Depois da aula sobre a cultura local, o guia te deixa a vontade para passear pela pequena ilha. São cerca de quatro a oito famílias que vivem em cada ilha, e todas disputam sua atenção para que visite sua casa ou compre seus artesanatos (eles vivem do turismo, então, já sabe... são insistentes). Bem, eu, como gosto mesmo de comprar souvenir de viagens, aproveitei pra comprar uma lembrancinha feita de totora, e explorar local.

As casas são minúsculas, contendo apenas uma cama, e todas são feitas também de totora. Um fato interessante é que, a cada mês, é preciso trocar o piso por folhas novas, pois elas vão apodrecendo e rachando com o tempo. Para trocar o piso debaixo das casas, estas são levantadas por 6 homens.

Entre as casas é colocada uma grande pedra, sobre a qual é instalado um fogão comunitário de barro. E assim vivem estas pessoas.





Fogão comunitário







A próxima parada é numa outra ilha flutuante, uma espécie de "ilha principal", onde há um pequeno bar e restaurante, e lojinha de souvenirs. Você pode seguir o passeio no barco em que veio, ou, por 10 soles, fazer esse trecho num barco de totora, guiado a remo pelos próprios moradores. Nós optamos por fazer o passeio no barco de totora.









Nessa "ilha principal" nós aproveitamos para comer um lanche, que, a propósito, estava delicioso. O pão tem o formato de uma esfirra (triangular), e é bem crocante. No recheio, queijo e abacate.



Além de comer, também aproveitamos para carimbar nosso passaporte. É isso mesmo... se você gosta de colecionar carimbos em seu passaporte, não deixe de levá-lo para esse passeio. Por apenas 1 novo sol, você leva esse lindo carimbo.


Deixamos as Ilhas de Uros e seguimos nosso passeio para a Ilha Taquile.

Ilha Taquile

Taquile é uma ilha rochosa localizada a 35km ao norte da cidade de Puno, pertence ao distrito Amantani, e possui cerca de 2.200 habitantes. Seu ponto mais alto fica a 4.050 metros acima do nível do mar, e a vila principal fica a 3.950 metros (190 metros acima do lago). Para chegar até lá existem dois caminhos: uma escadaria com 538 degraus ou uma trilha de quase 3 quilômetros, com subidas suaves, passando por fazendas e pequenas comunidades. 

Seguindo nosso guia, subimos pela trilha e, na volta, descemos pela escadaria. Na ilha existem vários arcos que dividem as comunidades, e logo no início da subida nos deparamos com um deles. Taquile não tem ruas, carros, bicicletas ou mulas. Somente campos verdes cultivados, ruínas pré-hispânicas, eucaliptos, ciprestes e caminhos estreitos por onde transitam tudo e todos.






Durante o passeio, nosso guia explicava sobre os trajes, que são diferenciados e coloridos conforme o estado civil de cada um. As mulheres casadas normalmente se vestem com saia preta e blusa de cores sóbrias. Sobre a cabeça levam um xale de lã escuro. As moças solteiras também usam o xale, mas suas roupas são de cores vivas e com enormes e coloridos pompons nas pontas. Todas usam de 5 a 6 camadas de saias, uma por cima da outra. Os homens em geral usam calça e colete pretos e uma cinta larga e colorida. Junto à cinta levam uma bolsa onde carregam as folhas de Coca. A diferença entre solteiros e casados está no gorro, os solteiros usam um gorro metade branco e a outra metade colorida e os casados um gorro totalmente colorido.

Depois da caminha exaustiva (lembrando que a altitude dificulta a respiração), chegamos à Praça Central da ilha, onde fica o Centro Artesanal Comunitário San Santiago e a Igreja Nossa Senhora.




A religião predominante do Peru é o cristianismo católico, mas  todos louvam fervorosamente Pachamama, a Mãe Terra, com um profundo orgulho de suas origens Incas. O cume do monte é sagrado para os taquileños: é lá que, somente uma vez por ano, realiza-se a cerimônia de oferenda a Pachamama (não chegamos a ir ao cume).
 
Embora sejam cidadãos peruanos, os moradores da Ilha de Taquile seguem leis próprias: não há um só soldado da polícia e nosso guia disse que não há um crime há mais de 20 anos na ilha.

Os Taquilenhos tem um conjunto de três leis básicas herdadas dos antepassados Incas. São elas:
Ama Sua – Não seja ladrão.
Ama Kella – Não seja preguiçoso.
Ama Llulla – Não seja mentiroso.
 
Depois de conhecermos um pouco dos costumes local, uma pausa para apreciarmos a vista lá do alto, com o Lago Titica rodeando a ilha e os Andes ao fundo.
 

 



Seguimos então para o nosso almoço local, numa casa de família com um terraço grande o suficiente para receber os turistas. As pessoas ali são muito simpáticas e receptivas. Nos serviram uma sopa de entrada, e depois uma truta com batatas. E para finalizar, o tradiciona chá de muña para ajudar na digestão.






Depois do almoço e um breve descanso, hora de descer a escadaria, com seus 538 degraus, e apreciar as lindas paisagens pelo caminho.










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