Manaus - AM - dezembro/2022
Localizada no centro da maior floresta tropical do mundo, mais precisamente na confluência dos rios Negro e Solimões, Manaus, capital do vasto estado do Amazonas, destaca-se por estar numa região onde a natureza impõe soberania incontestável, e por seus edifícios históricos bem preservados, símbolos da glória do Ciclo da Borracha, tempos em que a cidade era chamada de "Paris dos Trópicos", devido ao luxo de sua arquitetura europeia, o que lhe rendeu investimentos estrangeiros e imigrantes de todas as partes do mundo. Em função disso, Manaus tornou-se mundialmente conhecida e exerce significativa influência nacional e internacional, seja no ponto de vista ambiental, cultural ou econômico.
O Centro Histórico da cidade não é muito grande e é possível visitá-lo em um único dia, mas nós optamos por ficar três dias na cidade para termos tempo de visitar também o interior de alguns dos principais edifícios e monumentos históricos, bem como o Jardim Botânico da cidade e a Praia de Ponta Negra.
Também há vários passeio de barco pela região (inclusive o famoso encontro das águas) que podem ser feitos a partir de Manaus, mas nós deixamos para fazê-los a partir de outros pontos, pois dividimos a viagem da seguinte forma: três dias em Manaus, três dias em um hotel de selva no Rio Negro e três dias em um hotel flutuante, a navegar pelas águas do Rio Solimões.
CENTRO HISTÓRICO DE MANAUS
Manaus tem como seu maior símbolo cultural o Teatro Amazonas. Localizado no Largo de São Sebastião, no Centro Histórico de Manaus, o Teatro Amazonas é considerado um doas mais importantes teatros do Brasil. foi inaugurado em 1896 para atender ao desejo da elite amazonense da época, que idealizava uma cidade à altura dos grandes centros culturais.
Construído em estilo renascentista e com detalhes únicos em sua cúpula, composta por 36 mil peças de escamas em cerâmica esmaltada e telhas vitrificadas vindas da França, colorido em verde, amarelo e azul, numa menção à bandeira brasileira, o Teatro Amazonas tornou-se um dos monumentos mais conhecidos do Brasil e, consequentemente, um dos responsáveis pela fama da cidade de "Paris dos Trópicos". Por ser uma obra singular no país e por representar o apogeu de Manaus durante do Ciclo da Borracha, foi tombado como Patrimônio Histórico Nacional pelo IPHAN em 1966.
No Salão Nobre do Teatro Amazonas, onde aconteciam os grandes eventos sociais da época, destaca-se a pintura do teto feita por Domenico de Angelis em 1899, e que foi batizada de A glorificação das Bellas Artes da Amazônia.
A Igreja de São Sebastião, também localizada no Largo de São Sebastião, ao lado do Teatro Amazonas, foi inaugurada em 1888, sendo uma das igrejas mais antigas do mundo. Foi tombada em 1988 como Patrimônio Histórico e Artístico do Amazonas - CEDPHA.
Atrás do Teatro Amazonas está o Centro Cultural Palácio da Justiça do Amazonas. É um edifício histórico construído no século XIX para atender às instalações do Poder Judiciário do Estado do Amazonas na época.
Inaugurado em 1900, é um dos principais exemplares da arquitetura clássica do período áureo da borracha. Foi tombado como Patrimônio Histórico e Artístico do Amazonas em 1980, e, os nomes dados às salas que o compõe, homenageiam personalidades ligadas à sua implantação e ao Poder Judiciário do Estado do Amazonas.
Seguindo pela Av. Eduardo Ribeiro a partir do Largo de São Sebastião, chega-se ao Porto de Manaus, passando pela Catedral Nossa Senhora da Conceição.
Chafariz da Praça da Matriz, em ferro fundido |
Ao lado da Praça da Matriz, na Av. Eduardo Ribeiro, encontra-se o Relógio Municipal, inaugurado em 1927.
Os materiais são importados da Suíça e construídos sobre base de pedra dos ourives importados da Itália. No círculo ao redor do relógio pode-se ver uma frase escrita em latim: “Vulnerant omnes, ultima necat”, locução latina que significa “Todas ferem, a última mata” (diz-se falando das horas; antiga inscrição usada nos mostradores dos relógios das igrejas ou dos monumentos públicos).
Em frente à Praça da Matriz está o Porto de Manaus.
Prédio do Porto à esquerda, e Alfândega, à direita, vistos do pier |
Prédio da Alfândega (desativado) |
Torre da Guardamoria e Farol (desativados) |
Um pouco adiante do Porto, seguindo pela Av. Floriano Peixoto e Av. Marquês de Santa Cruz, chega-se ao Mercado Municipal Adolpho Lisboa.
Fachada da Rua dos Barés |
Fachada de frente para o Rio Negro |
Fachada de frente para o Rio Negro |
Pavilhão dos peixes, todo em ferro fundido |
Pavilhão central, com paredes em pedra jacaré |
Pirarucu seco |
Farinha, um dos produtos mais consumidos em Manaus (diversos tipos) |
Ainda no Centro Histórico de Manaus vale a pena visitar o Palacete Provincial, em frente à Praça Heliodoro Balbi, que hoje abriga um conjunto de cinco museus: Museu de Arqueologia, Museu da Imagem e do Som (MISAM), Museu de
Numismática do Amazonas, Museu Tiradentes e a Pinacoteca do Estado do
Amazonas. A entrada é gratuita e, apesar dos acervos serem pequenos, é bem interessante.
É um prédio centenário impregnado de importantes fatos ligados à vida social e política do povo amazonense. Inaugurado oficialmente em 1875, o prédio já foi sede do governo e residência dos presidentes da Província do Amazonas até 1888. Funcionou como Quartel da Polícia Militar do Amazonas por mais de 100 anos e, atualmente, a Secretaria de Estado de Cultura do Amazonas (SEC) é a responsável pela utilização do espaço.
Praça Heliodoro Balbi |
Do outro lado da praça está o Colégio D. Pedro II, instalado num prédio em estilo neoclássico desde 1886, é a mais antiga escola de ensino secundário da cidade. O Liceu Provincial, o primeiro nome oficial da tradicional instituição de ensino, fora fundado em 1869.
JARDIM BOTÂNICO E MUSEU DA AMAZÔNIA
Fora do Centro Histórico de Manaus, vale muito a pena visitar o Jardim Botânico Adolpho Ducke, considerado o maior fragmento de floresta preservada dentro de área urbana no Brasil.
Fundado em outubro de 2000, o Jardim Botânico é administrado por meio de uma parceria entre o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), a Prefeitura de Manaus e o Museu da Amazônia (Musa), com o objetivo de buscar alternativas para conter o avanço da ocupação desordenada nas zonas Norte e Leste de Manaus, bem como proteger as florestas da região.
Ali também se encontra o Museu da Amazônia (Musa), instalado na reserva em 2009. Juntos, o Jardim Botânico e o Musa proporcionam aos visitantes uma verdadeira imersão na natureza, com trilhas ecológicas que levam à exposições, laboratórios, lagos e uma torre de 42 metros de altura.
Entre as espécies de árvores nativas, destaca-se o Angelim-pedra, também conhecido como Angelim-vermelho, a árvore mais alta da floresta amazônica, podendo atingir 80 m de altura. No Brasil, é encontrado apenas em áreas de terra firme da região amazônica. Uma das características para o seu reconhecimento é a coloração avermelhada que seu tronco adquire quando entra em contato com a luz solar.
O Lago das vitórias-régias é outra atração de destaque no jardim Botânico. As famosas vitórias-amazônicas, também denominadas de vitórias-régias, em homenagem à rainha Vitória da Inglaterra, encantam os visitantes que por elas passam. Suas flores são inicialmente brancas, tornando-se róseas no segundo dia de vida, e duram apenas 48 horas.
Mas a maior atração do parque é, sem dúvidas, a Torre de Observação do Jardim Botânico. São 242 degraus e 42 metros de altura para admirar a floresta, sobre as copas de suas árvores. Na foto não é possível captar toda a beleza vista lá de cima.
PRAIA DE PONTA NEGRA
Continuando o tour pela cidade de Manaus, vale a pena reservar uma tarde para curtir a Praia de Ponta Negra.
Localizada às margens do Rio Negro, a Praia de Ponta Negra possui uma orla urbanizada, com quadras para prática de esporte e um anfiteatro, onde são realizadas apresentações musicais, espetáculos teatrais e outras atrações, tornando-a um dos principais pontos turísticos da capital amazonense. As águas do Rio Negro podem parecer barrentas, mas não são. Possuem essa cor escura em virtude da grande quantidade de matéria orgânica dissolvida, oriunda da decomposição da vegetação.
PASSEIOS PELA REGIÃO
Como eu disse lá no início, há vários passeio de barco pela região (inclusive o famoso encontro das
águas) que podem ser feitos a partir de Manaus, mas nós deixamos para
fazê-los a partir de outros pontos. Clique nos links abaixo para ver como foi nossa experiência num hotel de selva e num cruzeiro:
Hotel de selva - Tucan Lodge - Rio Negro
Hotel flutuante - Iberostar - Rio Solimões
ONDE SE HOSPEDAR EM MANAUS
A cidade oferece diversas opções de hospedagem, e as principais estão no Bairro de Ponta Negra, considerado o melhor bairro da cidade, e no Centro Histórico de Manaus. Eu sugiro a hospedagem no Centro Histórico, porque, além de estar próximo aos principais pontos turísticos da cidade, há vários bares e restaurantes tradicionais na região, principalmente no Largo de São Sebastião, e é super tranquilo caminhar por ali à noite.
Nós nos hospedamos no Hotel Casa dos Frades, localizado no Largo de São Sebastião, praticamente em frente ao Teatro Amazonas. É um hotel simples, mas com muita hospitalidade, instalado numa antiga residência dos frades capuchinhos da ordem de São Francisco de Assis. É um hotel histórico com jeito de museu, com vários acervos dos frades espalhados pela decoração. E ainda conta com um terraço com uma belíssima vista para o Teatro Amazonas.
Salão do "café da manhã" |
Terraço |
Terraço |
Vista do Terraço |
O QUE E ONDE COMER EM MANAUS
A gastronomia amazonense, rica em peixes e frutas, é, sem dúvidas, uma atração à parte, e experimentar novos sabores é sempre primordial em todas as nossas viagens.
Peixes do Rio Amazonas
É claro que não é possível provar as mais de duas mil espécies de peixes do Rio Amazonas, mas pelo menos alguns dos mais tradicionais você poderá encontrar em qualquer restaurante da cidade, como por exemplo:
- Pirarucu: um dos maiores peixes de água doce do mundo.
- Tambaqui: possui espinhas grandes e grossas.
- Tucunaré: de carne firme, muito usado para caldeirada ou em filé.
- Matrinxã: assado inteiro na brasa ou em forno, recheado com farinha e legumes;
Nós provamos diversos tipos de peixes em diversos restaurantes, e preparados de diversas formas, mas meu favorito foi o matrinxã assado e recheado com farinha e legumes. Esse da foto abaixo é do restaurante do cruzeiro Iberostar.
Restaurante Tambaqui de Banda
O restaurante Tambaqui de Banda é um dos melhores lugares para provar o famoso "Tambaqui de banda" assado na brasa, prato que dá nome ao restaurante. Lá também provamos o "bolinho de tambaqui" e o "tacaqui" (prato vencedor do festival Brasil sabor), que é um nhoque com tacacá (tacacá é um dos pratos mais tradicionais da região, preparado com caldo de tucupi - extraído da mandioca brava, goma de tapioca, camarão seco e jambu - planta que causa dormência na boca). O restaurante está localizado no Centro Histórico de Manaus, bem ao lado do Teatro Amazonas.
Restaurante Caxiri Manaus
Instalado num casarão antigo, com janelões voltados para o Teatro Amazonas, o Caxiri Manaus tornou-se um dos restaurantes mais tradicionais da cidade. Os pratos são requintados e todos trazem inspiração regional com sabor amazônico. Nós provamos o "ragu de pato com nhoque de macaxeira puxados na manteiga com jambu e crocantes de uarini" e "carne de sol chamuscada na churrasqueira com purê de batata, chaya refogada, abacaxi grelhado e farofa de uarini".
Bar do Armando
Outro lugar imperdível é o Bar do Armando, o bar mais tradicional da cidade e ícone da boemia manauara. O bar foi declarado Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Amazonas e também está localizado no Largo de São Sebastião, no centro histórico de Manaus, pertinho do Teatro Amazonas. Ali nós provamos o famoso pastel de tambaqui com banana, tambaqui empanado e caipirinha de cachaça de jambu (planta que causa dormência ou sensação de formigamento na boca).
Tacacá
O tacacá é um dos pratos mais tradicionais da região, preparado com caldo de tucupi (extraído da mandioca brava), goma de tapioca, camarão seco e jambu (planta que causa dormência na boca), e, apesar do calor frequente, é um dos pratos mais consumidos pelos manauaras.
O lugar mais famoso pra se comer o tacacá é a Barraca da Gisela, na praça em frente ao Teatro Amazonas. Nós não conseguimos comer por lá porque havia muita fila todos os dias, em razão das atrações natalinas ali da praça, e acabamos comendo no restaurante do cruzeiro Iberostar. Pelas fotos que vi do Tacacá da Gisela, o dela me pareceu mais encorpado do que esse que provamos.
Tucupi
é um caldo preparado a partir do suco extraído da mandioca brava. A mandioca brava é tóxica mas, após fermentado, fervido e temperado, esse caldo se torna próprio para o cunsumo, e muito utlizado em caldeiradas, ou pratos tradicionais como o tacacá (adima) e o pato no tucupi. Nós provamos o pato no tucupi e arroz de tucupi no restaurante do cruzeiro Iberostar.
Farinha de Uarini
Conhecida também como “farinha ovinha” devido à semelhança com as ovas de peixes locais, leva o nome da cidade onde é produzida, há 500 quilômetros de Manaus.
A matéria-prima é a mandioca amarela, colocada na água por até sete
dias, quando se transforma em uma massa chamada puba. Ela é então
espremida, moída e peneirada em fôrmas com grandes orifícios. Ao fim do processo, os grãos são secos e depois hidratados. É mais
grossa e crocante, com “bolinhas” que lembram ovas de peixe. É muita usada em recheio de peixes ou como acompanhamento de pratos mais sofisticados, como aquele do restaurante Caxiri Manaus (citado acima), e até mesmo com açaí.
Farinha ovinha no Mercado Municipal |
Farinha ovinha e farinha de tapioca na mesa de um restaurante - muito comum |
X-caboclinho
É um lanche preparado normalmente com pão francês (podendo ser substituído por tapioca) e recheado com lascas de tucumã (fruto de uma palmeira amazônica), banana frita, queijo coalho e manteiga, e muito consumido no café da manhã.
Frutas regionais, sucos e sorvetes
São muitas as opções, mas os sucos e sorvetes mais comuns, facilmente encontrados em qualquer restaurante ou sorveteria, além daqueles conhecidos aqui por nós do sul, como os de abacaxi e acerola, são os de cupuaçu, buriti, graviola e taberebá (cajá), além, é claro, do açaí, que por lá é consumido tanto doce quanto salgado (com farinha ou camarão seco ou peixe).
E assim foram nossos dias em Manaus e na Floresta Amazônica. Sentiremos saudades dessa que foi uma das melhores viagens que já fizemos pelo Brasil!!
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